DÁ PRA SER FELIZ?

DÁ PRA SER FELIZ?

Há pouco li uma crônica de um jornalista falando que, ao abordar em suas crônicas temas relevantes, como o conflito no Oriente Médio, a política no Brasil, a educação e cultura,a exploração do trabalho infantil e outros assuntos, sente que todos esses temas passam despercebidos.

Fica, ele, com a sensação de que seu texto não foi lido. Seu desespero pela suposta falta de leitores foi tanto que teve um surto e resolveu atacar os cachorros, disse ele. Bem coisa de louco...

Sua caixa postal eletrônica estourou. ‘Encontrei a formula do sucesso’- disse ele. Mas isso tudo é próprio de seu estilo irreverente. Gozação pura. Contou que, falar mal da cachorrada supera qualquer papo sobre futebol; atiçar os cachorreiros causa revolução.

Estou aqui, sentada em frente ao monitor, escutando ‘Soy Como Toda Mujer’, de Maria Martha Serra Lima - certas músicas me emocionam e me entristecem.

Meu objetivo era desenrolar o assunto do jornalista por outro ângulo, indo por outros caminhos, mas estou mudando de rumo. Talvez a música esteja me fazendo pensar mais profundamente; esteja me dando mais indícios para entender a alma humana.

Em geral, quem tem um animal de estimação tem para onde canalizar sentimentos frustrados. Esquecemos sentimentos primitivos.

Animais não nos ofendem e, muitas vezes, nos mostram o quanto nós, os humanos, somos mal resolvidos ou mal intencionados. Temos muitas qualidades, por certo, mas somos muito complicados, quase indecifráveis.

Dá pra ser feliz:

Quando somos tachados de loucos por sermos diferentes?

Quando somos tachados de egoístas por cuidarmos da nossa vida?

Quando somos tachados de intrometidos por tentarmos ajudar os outros?

Quando somos tachados de displicentes ao levarmos a vida com leveza?

Quando somos tachados de general por querermos disciplina e ordem no pedaço?

Dá pra ser feliz se para sermos chamados de "amigo" temos de ceder o que achamos errado ou emprestar nossos ouvidos para servirem de receptáculo, apenas?

Amizade é troca de afeto, é respeito e solidariedade. É chegar na hora certa. Até ficar calado! Silêncio não magoa. Por isso queremos tão bem aos animais. Em certos momentos é bom ter um ombro amigo, silencioso. Mas é difícil; geralmente as pessoas têm um bocão!

E eu aqui, escutando esta linda música, abro minha alma na ânsia de obter respostas para uma vida tão efêmera...

“O que vim fazer, para onde vou, qual é o sentido, sou feliz?”.

Ah, se eu soubesse a resposta...

Fico a olhar minha casa cheia de quinquilharias inúteis, consumindo na ânsia de ser feliz... Olho ao meu redor e vejo atitudes mesquinhas; olho ao meu redor e vejo pseudo-amigos, poucos são verdadeiros. Não serei eu também mesquinha e cheia de defeitos aos olhos dos outros?

Dá pra ser feliz?

Vivemos insatisfeitos porque não temos paz; convivemos com a violência gratuita, com a falta de perspectivas; muitas vezes ficamos estarrecidos diante de uma violência presenciada nas ruas e nada fazemos por medo de represália.

Vivemos um caos; matamos pelo simples ato de matar; vivemos numa sociedade de revoltados cujas causas sociais são visíveis, e, infelizmente, para nós, insolúveis.

Dá pra ser feliz?

Entendo a tua caixa de e-mails lotada, jornalista! É tão fácil clicar no ‘Aurélio’ e colocar a palavra ‘carência’!

Dá pra ser feliz?

Neste momento olho para o tapete: ao pé de minha cadeira está meu cachorro dormindo... Eu preciso de silêncio, e ele me dá. Neste momento, estou feliz.

Temos momentos de felicidade. MOMENTOS! Mas com esta dose homeopática, dá pra ser feliz?